Além dos fatores ambientais e do estilo de vida, um terceiro fator pode impactar diretamente no risco de desenvolver um câncer: a hereditariedade. Embora não sejam muito frequentas, as síndromes genéticas hereditárias aumentam consideravelmente esse risco em famílias inteiras – e é justamente isso que a oncogenética busca contornar. O assunto foi destaque no VIII Simpósio Recife-Detroit, evento realizado na última quinta-feira (26), no Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP). O Simpósio Recife-Detroit é promovido anualmente em parceria com a Detroit International Research & Education Foundation (Diref).
A suspeita de síndrome hereditária surge quando há histórico de câncer na família e/ou quando a doença surge em pessoas muito novas. A recomendação, nesses casos, é que o paciente realize um aconselhamento genético e faça testes que possam identificar a existência de mutações genéticas. “O câncer hereditário existe apenas em uma pequena parte da população, mas os riscos de essas pessoas desenvolverem câncer são muito elevados. Precisamos considerar que estamos falando de toda uma família e não apenas de um paciente”, pontuou a diretora do Centro de Aconselhamento Genético do Karmanos Cancer Institute, nos EUA, Nancie Petrucelli, durante sua palestra no VIII Simpósio Recife-Detroit.
Para se ter uma ideia, a possibilidade de uma mulher sem fatores de risco desenvolver um câncer de mama é de cerca de 12%. Se a mulher, no entanto, for portadora de uma mutação no gene BRCA1, por exemplo, esse risco ultrapassa 70%. Já a Síndrome de Lynch aumenta o risco de surgimento de tumores colorretais, mas também pode ocasionar o aparecimento de câncer no endométrio e no ovário. “É muito importante descobrir a existência dessas síndromes para que possamos implantar um rastreio ou definir a melhor conduta para os pacientes e seus familiares. No caso de câncer colorretal, podemos indicar a colonoscopia para pessoas com idades entre 20 e 25 anos”, explicou. Para a população em geral, a indicação é que esse exame seja realizado somente a partir dos 50 anos.
Um dos procedimentos realizados em caso de confirmação da síndrome é a cirurgia redutora de risco, que ganhou destaque em 2013, devido a intervenções realizadas pela atriz Angelina Jolie para a prevenção de tumores de mama. De acordo com o coordenador do Departamento de Aconselhamento Genético em Oncologia do HCP, dr. Vandré Carneiro, que também palestrou no evento, das dez neoplasias mais comuns no País, nove podem ser causadas por mutações. “Nós podemos modificar a história natural do câncer nessas pessoas, seja pelo aconselhamento genético, seja rastreando mais cedo, seja pela cirurgia redutora”, afirmou.