Muita gente não sabe, mas, apesar de ser uma doença que restringe as doações de órgãos, o câncer não impede a doação da córnea. Como a doença ainda é muito estigmatizada, essa possibilidade quase não passa pela cabeça dos pacientes. Porém, depois de uma pesquisa realizada em 2012, a Central de Transplantes de Pernambuco percebeu que 60% dos óbitos do Hospital de Câncer de Pernambuco eram viáveis para a doação de córnea.
Assim, quando perdem um ente querido, os familiares descobrem a chance de ajudar alguém que também vem enfrentando um sofrimento por conta de deficiências visuais. E aí, não hesitam em autorizar a doação. A aceitação em relação à doação da córnea do parente é tão grande que, em um ano de coleta, o HCP já é um dos maiores doadores de córnea de Pernambuco. Já foram 86 doações no primeiro ano da Comissão.
Para dar andamento ao processo de doação de córnea com mais propriedade, o Hospital instalou uma Comissão Intra-hospitalar de Transplantes em maio do ano passado, depois que a Secretaria de Saúde de Pernambuco percebeu o potencial da unidade. Hoje, o HCP mantém uma equipe de psicólogos e enfermeiros de plantão para sugerir doação e apoiar os familiares dos pacientes que vão a óbito na unidade.
A córnea é um tecido e, por isso, não recebe vascularização. Como as células de metástase se espalham pela corrente sanguínea, elas não chegam à córnea, por isso este tecido não apresenta células de câncer. As contraindicações para doação de córnea se restringem às vítimas de infecções generalizadas, leucemia e tumores no globo ocular. Os outros tipos de câncer não entram na lista. O câncer é uma contraindicação para a doação de órgãos, com exceção da córnea. “A via de inseminação do câncer é a via sanguínea. Por se tratar de uma estrutura não-vascularizada, a córnea não recebe as células neoplásicas”, afirma Fábio Malta, diretor técnico do HCP, ressaltando que a doação de córnea por vítimas de câncer já virou uma prática positiva no Hospital de Câncer de Pernambuco.