Bebidas alcoólicas elevam o risco de câncer, é o que afirma diversos estudos oncológicos no Brasil e no mundo. E esse fator de risco é preocupante, uma vez que a maioria das pessoas pode até reconhecer a relação do álcool com outras doenças, mas quase nunca com o câncer. Mas, se engana quem pensa assim. Apenas em 2020, mais de 4% (740 mil) dos casos de câncer diagnosticados no mundo foram provocados pelo consumo de álcool, conforme mostrou uma pesquisa realizada pela revista científica The Lancet Oncology.
Quando o assunto é Brasil, país que tem mais da metade da população com mais de dezoito anos consumidora de álcool, cerca de 8,7% dos cânceres em homens e 2,2% em mulheres são causados pela bebida alcoólica, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a Dra. Luciana Arcoverde, médica especialista em Cirurgia de Cabeça e Pescoço, não há uma quantidade exata de álcool que pode contribuir para o surgimento do câncer, contudo já existem pesquisas das quais mostram que a maioria dos casos de câncer relacionados ao álcool aparecem em pacientes considerados alcoólatras.
“Nós vemos essa relação (do álcool com o câncer) em pacientes que consomem doses diárias e elevadas de álcool, e não naquela pessoa que bebe uma “cervejinha” nos finais de semana. ”, diz.
Ainda de acordo com a Dra. Luciana, a ingestão de álcool combinada com o tabaco pode causar um efeito sinérgico ainda mais prejudicial e de fator de risco para o câncer. “As substâncias contidas no tabaco juntamente com o álcool, que atua como solvente dessas substâncias, vão alterar a função das células e alterar o DNA. Essa alteração no DNA das células vai fazer com que ocorra a carcinogênese, ou seja, quando as células se multiplicam de forma desordenada e originam o câncer”.
Alguns dos tipos de câncer mais comuns provocados pelo álcool
Mucosa da via área digestiva: O álcool pode facilitar a penetração de agentes carcinógenos na mucosa bucal, no esôfago e na laringe.
Fígado: Além do risco de câncer hepático, o consumo prolongado de álcool pode causar lesão e cirrose.
Câncer de esôfago: O álcool pode provocar males neste órgão, como alteração da absorção de nutrientes que são anticarcinogênicos.
Mama: O consumo excessivo de bebidas alcoólicas eleva os níveis de alguns hormônios, como o estrogênio, responsável pelo aumento das chances de desenvolvimento dos tumores de mama.
Dados alarmantes
A mesma pesquisa da The Lancet Oncology também apontou um dado alarmante: Quase 47% dos tumores malignos atribuídos ao álcool estavam ligados ao consumo excessivo de bebidas. O “excesso” citado pelos pesquisadores é definido por eles como o consumo de 60 ou mais gramas de álcool etílico (também conhecido como etanol, principal agente contido nas bebidas) por dia.
No estado de Pernambuco, a primeira pesquisa voltada para o tema foi sediada no Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) e teve como pesquisadora a Dra. Luciana Arcoverde. Ela avaliou os pacientes com câncer na cavidade oral e orofaringe que são tratados no Departamento de Cabeça e Pescoço. “Cerca de 70% dos pacientes avaliados relataram alcoolismo e 80%, o tabagismo. Um número altíssimo que comprova a influência desses componentes na incidência do câncer”.