Fundado na filantropia, o Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) nasceu em 1945, resultado do desejo de senhoras da alta sociedade do Recife em amparar os indigentes em tratamento contra o câncer.
Dessas mulheres, destaca-se Maria Esther Souto, esposa do empresário Adelmar da Costa Carvalho, que com apenas 28 anos de idade iniciou uma vida inteira de dedicação ao HCP, conhecida até hoje como a voluntária com maior tempo de atuação no Brasil. Dona Esther somente deixou de trabalhar no HCP aos 91 anos, por recomendações médicas, e faleceu pouco tempo depois, em 2009.
Sua neta, a empresária e fonoaudióloga Paula Meira, relata na entrevista abaixo um pouco do legado deixado por sua avó.
Foto/Arquivo pessoal
1. Paula, a biografia de dona Esther Souto se mescla com a história do HCP. É impossível falar do hospital sem lembrar-se dela e de sua dedicação ao paciente da nossa instituição. Mas para você, como neta, quem era Esther Souto? Qual a história por trás da primeira voluntária do Brasil?
Dona Esther era uma mulher incrível, muito solidária ao sofrimento humano, onde desde cedo percebeu que o doente, na época indigente hospitalizado, era o mais abandonado.
2. Como a história da filantropia está marcada em sua família?
Dona Esther foi um exemplo pra toda a família. A filantropia sempre permeou suas ações dentro e fora do Hospital de Câncer. Solidária às pessoas mais carentes e numa dedicação imensa em construir uma obra sólida, onde pudesse tratar e acolher o doente com múltiplas necessidades.
3. O Hospital de Câncer de Pernambuco tem uma história baseada na filantropia e no amor ao próximo. Conhecendo essa história de “dentro”, o que levou sua avó a aceitar o convite de Dília Henrique e abraçar essa causa e mobilizar a sociedade para ajudar o paciente carente com câncer?
Minha vó, dona Esther, recebeu esse convite com muita alegria. Ela, uma senhora de sociedade rica e beneficiada pela vida, mas marcada pela doença da filha primogênita, poderia ter um papel importante e porque não dizer moderno em ajudar ao próximo. Trouxe muitas outras senhoras, como também voluntarias de igual importância para abraçar a causa do paciente com câncer.
4. Quais recordações da sua avó são marcantes para você?
Talvez a recordação mais forte que eu tenha da minha vó seja o símbolo que ela carregou a vida inteira: uma rosa. Uma rosa com amor, como símbolo de solidariedade, levando acolhimento e muita bondade, embora tenha sido sempre uma mulher forte, uma fortaleza em forma de mulher.
5. Vendo o HCP hoje, conhecido como a principal referência em tratamento oncológico em Pernambuco, qual o sentimento em relação ao hospital que sua avó ajudou a construir?
O trabalho do Hospital de Câncer de todas as formas, desde o voluntariado, construído pela minha avó e outras senhoras voluntarias, inclusive a dedicação dos profissionais de saúde: médicos, enfermeiras, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, psicólogos, equipe administrativa e operacional, enfim, todo o grupo de profissionais e da estrutura humanística do hospital me faz sentir orgulho de fazer parte dessa história.
6. Esther Souto e Adelmar da Costa Carvalho foram protagonistas do trabalho em busca de doações, principalmente para a compra do terreno e a construção da unidade que hoje é o HCP. Quais sonhos eles tinham em relação ao HCP? Acredita que hoje eles estariam felizes com o que o hospital vem se tornando?
Dona Esther estará muito feliz onde estiver, pois sempre afirmou “Deste hospital só saíra meu corpo, a minha alma sempre estará no Hospital de Câncer”.
7. Qual o legado que Esther Souto deixou?
Seu maior legado foi o amor ao próximo, traduzido no exemplo vivo de compaixão, força e luta por uma causa.
8. Hoje a Rede Feminina, grupo voluntário com quase 300 pessoas, atuam aqui no HCP seguindo os ensinamentos deixados por Esther Souto. Você entende o voluntariado/humanização como parte importante na qualidade do atendimento?
O voluntariado é a maior forma de compromisso com outros seres humanos. O voluntariado em todos os sentidos constrói uma sociedade mais equilibrada, de maior amparo uns aos outros e de bons sentimentos. Sim, toda e qualquer ação que tem um voluntariado comprometido faz a diferença.
9. O que sua avó deixou de ensinamento para que outras pessoas tornem-se voluntárias?
Minha avó deixou o maior ensinamento: exemplo.
10. Quais ensinamentos da sua avó você leva para a sua vida pessoal e profissional?
Minha avó deixa valores que tornam uma pessoa comprometida com persistência, amor ao próximo, compaixão e solidariedade com o sofrimento humano. Se pudesse resumir em uma frase seria a dita por Cicely Saunders: “O sofrimento humano só é intolerável quando ninguém cuida”.
Foto/Arquivo pessoal
Foto/Arquivo pessoal
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