Os tumores malignos de cabeça e pescoço costumam enviar células metastáticas para os gânglios linfáticos presentes na região do pescoço – os linfonodos cervicais. Tanto para tratar a metástase quanto para preveni-la, os médicos podem optar por retirar esses linfonodos, através do esvaziamento cervical. Uma das consequências possíveis dessa cirurgia é a diminuição da mobilidade do ombro do paciente, o que dificulta a realização de atividades simples, como pegar objetos em prateleiras. Residente do Programa de Residência Multiprofissional do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), a fisioterapeuta Renata Bitencourt avaliou a extensão desses impactos nos pacientes da instituição. Os resultados da pesquisa, necessária para a conclusão da residência, foram apresentados no último dia 25 de fevereiro.
A pesquisa foi realizada com 16 pacientes, todos submetidos à cirurgia de esvaziamento cervical. Do total, nove eram homens e sete foram diagnosticados com câncer de boca. Além de responder um questionário que identificava os problemas já existentes no braço, ombro e mão, os pacientes foram submetidos a duas avaliações físicas, sendo a primeira realizada 24 horas antes do internamento para a cirurgia e a segunda, de 20 a 60 dias após o procedimento cirúrgico. Durante essa avaliação, Renata Bitencourt mediu a amplitude de movimentos do ombro, como os de flexão, abdução e extensão. Para isso, a fisioterapeuta utilizou um goniômetro, aparelho que possibilita a medição de ângulos.
O estudo revelou que, após a cirurgia, os pacientes apresentaram perda na mobilidade do ombro, especialmente no que diz respeito aos movimentos de abdução (perda média de 45,81°) e de flexão (perda média de 30,43°). Para a especialista, essas perdas podem ter ocorrido devido a danos causados no nervo acessório durante a cirurgia. Esse nervo é responsável pela inervação do trapézio, um músculo localizado nas costas que tem a função de estabilizar a escápula, osso essencial para a movimentação do ombro. “Todos os pacientes estão com os nervos presentes, mas eles podem ter microtraumas. Quando há uma lesão, ainda que ela seja mínima, o trapézio atrofia e perde força. Assim, a escápula não é estabilizada adequadamente, o que causa dores e dificuldades no movimento”, detalha Renata.
Esse problema impacta diretamente na qualidade de vida dos pacientes, uma vez que dificulta a realização de movimentos simples, como pentear o cabelo. O tratamento fisioterapêutico é fundamental para auxiliar na recuperação desses movimentos. “Nós fazemos exercícios para diminuir a dor e melhorar a amplitude do movimento, mas o ideal é que o tratamento seja iniciado o quanto antes, porque conseguimos trabalhar antes que esse músculo perca totalmente a força, uma vez que essa perda é gradual”, reforça Renata.
Orientadora da pesquisa e coordenadora do Serviço de Fisioterapia do HCP, Carina Batista acredita que o estudo pode ter impactos diretos na assistência aos pacientes. “A Fisioterapia sai mais fortalecida com esse trabalho, porque estamos mostrando a importância desse serviço. A tendência é que consigamos aplicar esse atendimento para pacientes de cabeça e pescoço, que podem se beneficiar com a fisioterapia para a melhoria das sequelas resultantes da cirurgia, da quimioterapia e da radioterapia”, enfatiza Carina. A monografia foi coorientada pela fisioterapeuta Cíntia Dutra, também do HCP.