Há cinco anos, as fonoaudiólogas do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) tiveram uma ideia ousada: formar um coral com os pacientes da instituição que, devido ao câncer, haviam retirado a laringe, órgão que abriga as cordas vocais. Alguns ensaios depois, nascia o Coral Ressoar. Na manhã da última segunda-feira (23), o Coral Ressoar realizou uma apresentação especial na Capela do HCP, em comemoração pelo seu quinto aniversário. Uma celebração que uniu cantores, fonoaudiólogos, superintendentes, voluntários, familiares e fãs desse coral improvável. Após a apresentação, uma missa em ação de graças foi celebrada no local.
Entre tantas atribuições, o serviço de Fonoaudiologia é responsável pela reabilitação dos pacientes que precisaram retirar a laringe após o diagnóstico de câncer na região. Uma das sequelas da laringectomia, como é chamado esse procedimento cirúrgico, é a perda da fala. Durante a reabilitação fonoaudiológica, os pacientes aprendem a voz esofágica, uma forma de emitir os sons através das contrações do esôfago. O processo de aprendizado da voz esofágica é árduo e depende muito da dedicação do paciente. Em alguns casos, são necessários anos até obter a fluência.
Foi nesse grupo de pacientes que Roberta Borba, hoje coordenadora do Serviço de Fonoaudiologia do HCP, viu a oportunidade de criar o Coral Ressoar. A proposta surgiu no começo de 2013, quando as fonoaudiólogas da instituição estavam planejando o que poderia ser feito em alusão ao Dia da Voz, celebrado anualmente em 16 de abril. “Nós tivemos essa ideia de reunir esses pacientes e mostrar que eles poderiam se superar após a doença e o tratamento que enfrentaram”, contou.
À frente do Coral está a fonoaudióloga Érika Espíndola, responsável pela escolha das músicas, pelos ensaios mensais e pela organização dos pacientes nos dias de apresentação. “São pessoas que há anos atrás receberam o diagnóstico de que não iriam mais falar. Agora, eles são guerreiros que estão vivendo suas vidas normalmente, é um prazer muito grande vê-los cantando”, reforçou.
Ronaldo Rodrigues está no coral desde a sua formação inicial, quando contava com cerca de cinco membros. Na época, ele ainda estava em tratamento e reaprendendo a falar. O grupo, disse ele, foi muito importante para esse processo de aprendizado. “Minha voz melhorou bastante depois que comecei a participar do coral. Hoje, estamos sendo reconhecidos por esse trabalho. Que ele continue e vá muito além”, frisou. Na segunda-feira, o veterano cantou ao lado de Aridelson da Silva, que participou da sua primeira apresentação. “Estou muito feliz, satisfeito de coração. É um incentivo muito importante”, afirmou. Diagnosticado com câncer em 2016, seu Aridelson demorou seis meses para aprender a voz esofágica.
Ronaldo Rodrigues e Aridelson da Silva participaram de apresentação em comemoração pelo aniversário do Coral Ressoar
Superintendente Geral do HCP, dr. Hélio Fonsêca parabenizou os integrantes do coral e presentou às fonoaudiólogas pelo trabalho desenvolvido. “Vocês têm uma razão a mais para comemorar, porque além de terem concluído o tratamento, vocês se reinseriram socialmente. O mais bonito disso tudo é como essa voz de vocês chega ao coração da gente”, ressaltou. Presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Maria da Paz também entregou presentes para os integrantes do coral. “É uma honra para nós, voluntárias, compartilhar desse dia com vocês”, afirmou.