A neutropenia febril é uma complicação bastante comum em pessoas que estão fazendo tratamento oncológico e é caracterizada pela redução do número de neutrófilos e existência de febre. Hoje, a ferramenta empregada para identificar a bactéria causadora da infecção é o isolamento dessa bactéria através de hemoculturas – exames que podem levar um período de até sete dias para serem liberados. Enquanto isso, o paciente passa a receber doses de um ou mais antibióticos de forma “cega”, ou seja, sem especificação para determinada bactéria. Algumas vezes, quando o resultado do exame fica pronto, é tarde demais, pois a infecção não existe mais ou o paciente apresentou desfecho desfavorável, as vezes chegando até a morte.
Foi diante desse contexto que Paulo Sérgio Ramos de Araújo, médico infectologista do Hospital de Câncer de Pernambuco, decidiu estudar uma forma mais rápida de diagnosticar essas bactérias. Em 2017, dr. Paulo Sérgio teve um projeto contemplado para estudar esse cenário ainda não explorado no Brasil, num edital do Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS): gestão compartilhada em saúde, da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe). Esse edital tem como objetivo prover estudos que tragam ferramentas que beneficiem o Sistema Único de Saúde.
Intitulado “Impacto do diagnóstico molecular no tratamento de infecções bacterianas em episódios de neutropenia febril de portadores de linfomas e leucemias”, o projeto será desenvolvido no período de 2018 a 2020, exclusivamente com pacientes da Onco-Hematologia do HCP. “Quando essa população alvo (pacientes com linfomas e leucemias) recebe quimioterapia, fica com a medula óssea completamente depletada e os leucócitos reduzem bastante. Essa situação pode durar (no pior cenário), até quatro semanas, o que acaba gerando infecções, geralmente bacterianas”, declara dr. Paulo Sérgio, explicando o motivo de ter escolhido pacientes da Onco-Hematologia. “Enquanto outros pacientes oncológicos passam de dois a quatro dias com neutropenia febril, os (pacientes) da hematologia podem passar até quatro semanas”, complementa.
O projeto consiste em desenvolver um exame de biologia molecular que identificará a bactéria causadora da infecção em até 48 horas, e, com isso, trará uma série de benefícios não só para o paciente, mas também para o Sistema Único de Saúde. “O propósito dessa pesquisa é acertar o alvo e consequentemente teremos outros ganhos em cadeia, como a diminuição da mortalidade, diminuição do consumo de antibióticos e também diminuindo o tempo de internamento hospitalar – o que representa redução de custos”, explica o médico. Essa celeridade proposta pela pesquisa é pioneira no SUS.
Essa pesquisa será desenvolvida em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e terá como colaboradora a médica hematologista Aleyde Diniz, também do HCP. Duas alunas doutorandas do curso de Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco também compõem a equipe do projeto e serão orientadas por dr. Paulo Sérgio.