“Às vezes a gente fica entre ir do hospital para casa e de casa para o hospital. Saindo do ambiente gente se diverte; se distrai”, é o que diz Galdinete Martins, de 49 anos. Há alguns meses ela vem realizando o tratamento de quimioterapia, mas na manhã desta quinta-feira (28) ela foi convidada pelas integrantes do Grupo Renascer para um dos passeios terapêuticos, realizado periodicamente. O destino foi o Museu do Cais do Sertão, localizado no Bairro do Recife. O objetivo: realizar uma atividade sociocultural com pacientes e ex-pacientes de câncer de mama.
Cerca de 30 mulheres visitaram o espaço no final da manhã. Muitas delas vindas de outras cidades, nunca tinham ido ao Museu. Encantadas com o material exposto, elas circularam pela exposição durante horas, enquanto observavam atentamente cada peça de roupa e de decoração do local, sempre animadas, sorridentes e pousando para várias fotos (como verdadeiras turistas) ao som do Rei do Baião.
Entre os instrumentos de trabalho que compõem a exposição, muitos pareceram bastante familiares para algumas visitantes. Uma delas foi Maria da Conceição (66). Ela conta que cresceu em um sítio em Igarassu e, apesar de ter ido ao Cais do Sertão pela primeira vez, reconheceu cada peça de trabalho, sempre dizendo seu nome, utilidade e forma de manuseio. “Assim que pus os olhos nessas coisas, logo me lembrei da minha infância e adolescência, quando ajudava minha família a trabalhar com as coisas da terra”.
Treze anos atrás, Conceição era uma paciente de câncer de mama no HCP. Tão logo começou o tratamento, já havia sido convidada a participar das reuniões no Espaço Renascer. Lá ela pôde trocar experiências e falar sobre seus medos e anseios com outras mulheres que já haviam enfrentado as mesmas etapas do tratamento que ela estava enfrentando. Hoje, já recuperada, lembra como foi o primeiro contato com o grupo de apoio: “pensei que estava sozinha, que iria morrer, mas com tempo fui vendo que não era bem assim”.
“O Grupo Renascer funciona como um espaço de apoio às pacientes”, explica a assistente social Fátima Filgueira. Nele, as pacientes realizam uma espécie de terapia holística que as torna aptas (tanto física, quanto psico e socialmente) a retomarem suas vidas após a doença”. É o caso da boleira Janice Brito (58). Após o final de seu tratamento ela iniciou um curso de confeitaria que a auxilia na renda mensal. Enquanto conversava animada falando sobre seus planos de fazer cursos de dança e de pintura, ela também mostrava as fotos da época em que fez a quimioterapia, apresentando como estava frágil e debilitada; o que contrasta drasticamente com sua atual imagem saudável e vívida.
Foi durante o passeio terapêutico que Galdinete Martins (aquela que estava no ponto de ônibus) pôde conversar com as companheiras, trocando seus medos por esperanças e decidiu, antes mesmo de entrar no Cais do Sertão, que ela também iria fazer parte do Grupo Renascer.